domingo, 4 de novembro de 2012

"Uma pessoa cujo trabalho conquistou meu respeito é Maria Helena Pereira Franco. O Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), fundado por ela, é importante centro de pesquisa e serviços na área. Maria Helena traduziu dois dos meus livros para o português e foi graças a ela que obtive o privilégio e o prazer de ir ao Brasil em várias ocasiões, o que me permitiu conhecer muitos jovens psicólogos e terapeutas que têm dado continuidade a esse trabalho pioneiro no país. Durante minhas visitas ao Brasil, fiquei impressionado com o entusiasmo, o compromisso e a capacidade de acolhimento dos muitos estudantes e profissionais que fazem um trabalho bastante promissor."
(Colin Murray Parkes)

Colin Parkes é a nossa referência maior, mundial, papa nos estudos sobre Luto. A sua fala referenciando o trabalho e construção da querida mestra Maria Helena Pereira Franco, já diz absolutamente tudo!
Sentimos um misto de ansiedade e forte expectativa pelo encontro que teremos com ela, a maior referência brasileira sobre Luto, no dia 15 de Dezembro.

O Instituto Entrelaços recebe a consultoria técnica da Profa Maria Helena, e ao seu lado, procuramos construir e sedimentar um lugar ético e cuidadoso no atendimento a pessoas enlutadas, bem como na educação continuada, com promoção de cursos e demais espaços de estudos, foco também do Instituto.

Se inscreva no Workshop, venha aprender e compartilhar suas experiências, ao lado de quem mais sabe sobre o assunto!

Aguardamos vocês!

Informações no nosso site: www.institutoentrelacos.com

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Como você explica para seus filhos o feriado de Finados?
Como se explica para crianças que hoje é o Dia dos Mortos?
Se fala com as crianças sobre o nascer, mas e sobre o morrer?
Por que é tão difícil falar da morte?
Tema tabu esse, que ao longo dos séculos, continua assustando, amedrontando e para uns, arrepiando no fundo da alma.
Medo da morte, medo da dor de quem fica, medo de deixar o que construímos, medo de ser esquecido. 
Morte e medo, andando sempre de mãos dadas.
Alguns, diante da religião e a partir de suas crenças, tem a morte como um lugar do conforto e do bem estar, mas morte é despedida e dizer adeus para quem se ama, costuma causar dor.
Não tem jeito, a morte é o final da caminhada do sentir a presença, e isso realmente dói!
Mas e as nossas crianças, sentem essa morte como? De que lugar? Como encontram sentido se para nós, adultos, já é muito difícil?
Deixamos aqui a nossa reflexão, e hoje gostaríamos de tocar os pais, os educadores, aqueles que trabalham com as crianças. Como aproximar da infância um tema como esse, e que fundamentalmente, faz parte da vida? Qual recurso podemos usar? Como ajudá-los com o conteúdo da morte?
É importante que elas entendam que somos finitos no momento que nascemos, mas podemos nos tornar infinitos no momento que construímos laços, formando relações afetivas e de apego. 
A morte fala do fim, os laços do início.





sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A tristeza faz parte do processo da perda e da dor. 
A falta de brilho no olhar, dias que insistem em demorar para passar, a vida fica sem cor, sem som, sem cheiro.
Sobreviventes das perdas, daquilo que se foi, do que se rompeu.
A dor de estar só num mundo cheio de gente, a falta de um, um que representa tudo, que representa dois, e assim na falta de representação, passa a representar tudo o que falta. Paradoxos do luto.
A falta de sentido para certas dores, a falta de clareza para entender o processo da tristeza.
A reconstrução existe, acredite, mas a temporalidade do que se repara depende daquilo que se perdeu, do lugar que ocupava, do afeto que existia e do vínculo que era formado.
Calma, serenidade, paciência e elaboração, são ingredientes que ajudam no processo.
O processo que você vive é apenas seu. Por isso, aproprie-se da sua dor, autorize o que sente, viva a sua ausência, pois só assim, ela poderá se transformar e se reorganizar.
O até logo pode assim, transformar o nunca mais e o para sempre!

sábado, 6 de outubro de 2012

Disco o número escrito no recorte de papel, sinto-me um pouco nervosa, penso na dor da família e se será bom falar comigo, mas acho importante a possibilidade dos fechamentos. Eu não estava lá quando aconteceu, foi num domingo.
Do outro lado da linha, uma voz suave atende e de imediato reconhece a minha voz. Sinto que ela se emociona ao falar comigo, eu me emociono ao falar com ela. 
Ela me faz algumas perguntas: "Como faço para aprender a viver sozinha? Como faço para mexer nas coisas dele? Como faço para ocupar todo o espaço da cama?Como faço para aprender ser só eu?" Ela pede um roteiro, um mapa, um código para seguir em frente. 
Ser estrangeiro no mundo da dor, é algo realmente desorganizador. 
Fico em silêncio do outro lado da linha, escuto o choro, quase um gemido, é baixo, é frágil, é a dor do luto que grita frente a ausência de quem se ama. 
Eu falo pra ela: "A morte não leva o que está dentro, o que construíram, o que viveram ao longo dos felizes 38 anos de casamento. Mas a morte deixa dor, muita dor sim, e é isso que você tem agora, mas não é isso que vai ficar com você. Não é justo com a  história de vocês." 
De alguma maneira, essa fala, acalma o pesar dessa mulher, e assim, podemos conversar alguns minutos sobre os filhos, netos e a história dessa família. 
Recordamos juntas que durante o processo de adoecimento, ele falava sobre ser a referência e o norte de sua família, aquele que resolvia, que acalmava, que tinha solução e caminhos para tudo. Do quanto ele sentia pena de sentir que seu fim estava próximo, ele sentia muito por não poder mais acompanhar os netos nas tarefas de casa, algo que ele adorava fazer, ele sentia pena de ter que ir embora. 
Conversamos sobre o que foi, sobre o que se viveu, sobre o que aconteceu, mas conseguimos transformar e fechar a conversa, no que ainda vai ser, no que se espera acontecer, no que ainda pode-se viver.
Termino falando do prazer de conhecê-los e da honra de escutar e compartilhar os últimos dias de seu marido.
Desligo o telefone, fico sentada alguns minutos antes de atender o próximo paciente, e sinto saudades desse homem, das conversas que tivemos, de sua simplicidade e do amor que emanava de seus olhos ao encontro de sua esposa.
Lembro que o registro dos nossos encontros também está dentro de mim, que o que foi construído não será perdido, a morte não tem se poder.
Assim, reorganizada, abro a porta e chamo a próxima família.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Tudo segue bem na vida, na dinâmica familiar, na rotina diária. As reclamações fazem parte do cansaço de todo dia, porque a vida, sim, muitas vezes é cansativa. 
Um dia, assim, de repente, o sol te faz acordar diferente.
Acontece que seu filho, aquele, que não toma banho na hora certa, que se atrasa para ir ao colégio, que enrola para levantar da cama e ir para o curso de inglês, que briga com o irmão mais novo; um dia, ele reclama de dor no corpo, refere um cansaço diferente de todos os outros, a enrolação para o colégio não é a mesma dos outros dias. Começa a emagrecer, ficar fraco, perder o apetite.
Você pensa: "alguma coisa está estranha e diferente". Resolve então, levá-lo ao médico, que acostumá-lo a vê-lo sempre bem, também estranha. 
Um hemograma é solicitado: "vamos aguardar o resultado, pode ser apenas uma dessas viroses."
O coração aperta, e coração apertado de mãe, é coisa estranha, é intuição angustiante, mãe não fica com coração apertado sem motivos...
O resultado do exame mostra que algo realmente está errado: "mas como meu filho, perfeito, amado, tão querido, que foi desejado e planejado, tem algo de errado?"
E à ameaça de ter a vida bagunçada por uma doença, já bagunça a vida só de pensar.
Vem a fala mais dura, aquela que nunca você imaginou escutar: "seu filho está doente, muito doente, precisamos interná-lo rapidamente para uma investigação mais apurada."
O mundo bagunça, o chão por minutos se perde, tonteira, calor, frio, medo, agonia, mas o choro não vem, não ainda.
E um caminho novo se apresenta, um caminho sem mapa, sem bússola, sem GPS, um caminho da solidão do mundo da doença.
Você vai conseguir caminhar, mesmo sem direção e achando que o caminho está errado. 
Mãe não erra o caminho, não totalmente, e mesmo quando pega a trilha errada, faz o filho achar que o caminho errado, é o novo, é a surpresa do dia. 
Mãe tem magia, mesmo na dor. 
Mãe é um ser diferente de todos os outros, não acham?



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quando nos ligamos afetivamente a um outro, dizemos que formamos laços...estes podem ser de amor, de amizade, de carinho, de admiração. Uma vez formado um laço, estabelece-se um vínculo. 
Passamos a gostar de estar na presença desse alguém, esperamos para dividir particularidades, desejamos pelo encontro, procuramos estar junto. 

Assim, conforto, bem estar, apaziguamento, acontecem quando os laços existem.


Por outro lado, entre os laços, também podem surgir afetos como o ciúme, a insegurança, o medo e a dor.


Quando os laços se rompem, existe a perda e dependendo de como essa perda ocorre, o mundo se esvazia, a dor consome todos os espaços e a vida fica difícil de ser vivida.


Quem perde algo tão caro, tão significativo, tem a sensação, muitas vezes, de perder parte de si.


Como fazemos, então, para seguir em frente? Como se "continua" com tanta dor? Os laços ainda existem mesmo na ausência, no desaparecimento do outro? A força do apego consegue sobreviver?


Muitas questões...mas uma coisa é certa, a dor vem na mesma proporção que o amor!