quarta-feira, 26 de março de 2014

Curso - Teoria e Clínica do Luto

 Muito especial e pensado com cuidado e carinho, Teoria e Clínica do Luto, é um curso de extensão que apresenta tópicos muito interessantes para os profissionais de saúde que atuam com essa temática.
Abordaremos questões como: vínculo e Apego, luto enquanto processo, manifestações e diferenças de luto normal e luto complicado, atuação clínica com olhar profilático, equívocos técnicos na clínica do luto, diferentes tipos de perdas nas diferentes etapas da vida, luto e ciclo vital, luto e adoecimento psicopatológico entre outros.
O curso segue uma metodologia dinâmica com a interação permanente dos alunos, com discussões de filmes e vídeos, recortes clínicos, vivências e claro, fundamentação teórica dos principais autores que na atualidade trabalham com luto.
Essa é a última semana de inscrição e na próxima quarta-feira daremos início a formação de mais uma turma.
Se desejar mais informações entre em contato com o Instituto e fale com a Jéssica, nossa secretária. Nossos telefones são: 2530.4137 / 97954.3131 ou secretaria@institutoentrelacos.com


sábado, 22 de março de 2014

Sobre Vinicius, perda, amor e dor



O que tinha de ser

"Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser."
(Vinícius de Moraes, 2003)





Porque as vezes é só isso mesmo, só mesmo porque tinha de ser.
Não sabemos explicar, não sabemos fazer melhorar, não sabemos esperar a dor passar, mas ela tinha de ser.
Porque a vida prega ciladas, faz doer em cada canto da gente, porque a perda e o que se foi, não volta mais. 
Mas se tinha de ser, vamos então, conseguir viver!
Assim eu penso que deve ser, porque senão, porque haveria de ser e de se perder?

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)





Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

sexta-feira, 21 de março de 2014

E quando os ídolos morrem?


Hoje eu abri a página do google pela manhã e me deparei com essa imagem. Em seguida um amigo me enviou uma mensagem falando que hoje o Senna completaria 54 anos de vida.
Pensei: "Nossa, eu lembro exatamente onde eu estava no dia em que ele morreu, na hora em que aquele acidente ocorreu."
Lembro que fiquei triste, chocada, tocada. Era adolescente naquele época, e se em maio completam 20 anos de sua morte, eu tinha 16 anos naquele dia, e lembro até hoje que doeu. Na verdade, o Brasil sentia dor, estava triste...afinal, ídolos não morrem, mitos não adoecem, heróis não são frágeis. 
E a morte de Senna nos faz pensar no que há de humano no herói, na perda do ideal, na dor da mortalidade e em nossa própria finitude.
Tudo acaba. Todos morrem. Todos nós, um dia, iremos morrer. Pensar nisso assusta.
Nossos pais em algum momento de nossas vidas foram nossos heróis, se tornaram nossos ídolos, e acompanhar o seu envelhecimento ou adoecimento é perder um pouco de si também. E quando eles morrem, parte de nós morre junto. As lembranças ficam solitárias porque o outro que a viveu não está mais alí para sentir junto, para compartilhar, para fazer eco no que é da gente, meu e dele. A lembrança deixa de ser de dois e passa a ser de um.
Senna foi assim, paternalmente um herói brasileiro, e, acompanhar o seu ritual fúnebre, a tv 100% Senna naquele dia, era a expressão de um grande luto coletivo. Escutar o Galvão Bueno chorando ao narrar a despedida do amigo, de algum lugar, nos desorganiza, porque aquela voz é de vida, de torcida, de comemoração, não de adeus. 
No luto o som fica baixo, a luz não ilumina, o corpo se ressente da ausência.
No luto somos o que um dia fomos juntos, ficamos com o que temos do outro que se foi, e nos despedimos do que não será possível ter.
Quando um ídolo vai embora, sem tempo da nação dizer adeus, sem se preparar para a sua partida, o país fica órfão e carente de segurança e de previsibilidade.
Hoje se Senna estivesse aqui como ele seria? Onde estaria? Como seria vê-lo fora de um carro de corrida?
Quando humanizamos o ídolo sentimos medo, pois ele se torna um igual e o igual morre.
Senna morreu ídolo e herói e fez sua passagem bem depressa, pilotando o seu carro, porque fora dele ele seria como todos nós. 
E heróis...heróis voam, não caminham.
Que ele esteja voando entre nós, olhando pelo Brasil e torcendo pela felicidade da nossa nação!
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços) 





Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

sábado, 15 de março de 2014

E se fosse com você?

http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2014/03/14/mulher-adapta-tumulo-para-filho-poder-brincar-com-irmao-morto-527612.asp

A escritora Lya Luft tem uma frase que eu gosto demais. Ela diz: "Quem sabe da minha dor sou eu." E no luto, sabemos, é assim mesmo. Ninguém pode falar da dor a não ser quem a vive, diariamente, cotidianamente, entre noites acordadas e angústias no peito, entre saudades e desamparo; só quem sabe dessa dor é quem vive o seu processo de luto. E olhando dessa forma, não existe uma dor maior, um luto maior que outro. Dor não se mensura quantitativamente. Afinal, a dor maior é a minha, simplesmente porque eu a vivo. Eu perdi quem amava. Eu deixei de viver os sonhos e planos que construí. E isso é absolutamente esperado, vivemos a nossa dor como se esta fosse a maior de todas. Essa reportagem versa um pouco sobre essas situações onde aquele que está fora do contexto, ou seja, da dor do outro, aponta o dedo para julgar. Atenção, todo o cuidado é importante quando falamos de sofrimento, despedidas e rompimentos de vínculos significativos. Adaptar um túmulo para o filho menor brincar com o irmão morto faz pensar em muita coisa, muita coisa mesmo. Mas pra mim, o que fica desta história é o caminho da dor, do luto e do amor. 
Cliquem no link para conhecerem a história na íntegra!
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)







Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sobre esperas

Existem esperas que são doloridas, que são amargas, que fomentam angústias, que impedem o foco, que alimentam a dor. 
Esperas deviam ser brilhos de esperança, possibilidades de futuro, mas nem sempre são. 
Esperas são dúvidas, nunca certezas.
No luto, esperas são daquilo que não volta, mas mesmo assim, o psiquismo não se acostuma com a ausência.
A permanência da ausência pode tornar a espera eterna, e aí, lidamos com uma dor mais complica e crônica, com lutos que não findam, com dores que não se acostumam com o nunca mais.
A complexidade de quem segue esperando alguém ou alguma coisa que sabe-se que não volta, é doloroso. A dor não conhece racionalidade, a dor não tem educação, ela chega sem pedir licença, ela se coloca ao lado sem perguntar se pode e quando se despede não diz adeus...pode então, um fato, quase ilógico, acontecer, à espera da dor voltar.
Lutos são esperas...
Não se volta ao que era antes, mas espera-se voltar.
Não existe a possibilidade de não acontecer a perda, mas espera-se acordar e tudo estar em seu devido lugar.
Lutos promovem questionamentos: Quando isso vai passar? Quanto tempo eu vou ficar assim? 
Espera-se apenas que a vida volte em uma brecha, mas não na brecha da saudade e do vazio.
Esperas são isso, brechas de vida, possibilidade do a posteiori , mas quem aguenta esperar?


(Erika Pallottino -Instituto Entrelaços)







Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

sábado, 8 de março de 2014

Porque hoje, dia 08 de março, é o dia Internacional das Mulheres . Porque mulheres são seres diferentes, são intensas por natureza, têm filhos que são gerados em seu próprio corpo e dele saem para à vida. Imersas em dores, sufocos e sensações, as mulheres respiram o mundo. Faz parte de sua natureza engolir o mundo em suas preocupações, acionadas pelo cuidado e pela maternagem ao que é humano.
Mulheres são sensivelmente sensitivas e reflexivas, escutam e ressoam, borbulham e explodem, implodem e deprimem.
Mulheres têm TPM, têm hormônios que circulam e as modificam diariamente.
Mulheres vivem em rodas gigantes e montanhas russas emocionais, sorrindo, chorando, vivendo e tentando elaborar o mundo que vivem.
Mulheres são mães, e mães perdem filhos; mulheres se casam e ficam viúvas... algumas se tornam ainda mais mulheres. Diante da dor, sentem-se leoas, querem viver e sofrer a dor na coragem da realidade de sua perda, não se escondem e não negam o sofrimento.
Mulheres se tornam fortes e maciças diante da dor.
Mulheres também quebram, desmontam, viram pó, porque a dor pode encolhê-las, murchá-las, desandá-las.
Mulheres, definitivamente, são seres diferentes.
Mulheres tiram a roupa, colocam o peito de fora e brigam pelo feminismo, na mesma intensidade que colocam a sua mutilação exposta em prol de outras mulheres, ajudando-as a ficarem atentas ao câncer de mama.
Mulheres tornam mutilações marcas de vida, registros do sofrido, tatuagem permanente de capacidade, de dignidade, de possibilidade.
Mulheres não são comuns, não são iguais, nem em suas fragilidades, nem em suas vitórias.
Mulheres são seres diferentes, só quem é, sabe!

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)






Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

terça-feira, 4 de março de 2014

http://mariadapoesia.blogspot.com.br/

Esse é o link de um blog lindo, belo, suave e denso. Quem escreve por lá é uma poetisa, Maria Rezende.
Escreve sentindo, escreve pulsando, escreve encenando.
Algumas pessoas escrevem e ponto. Faz sentido.
Algumas pessoas tornam a escrita a forma possível de sentir à vida.
Maria é uma dessas pessoas.
Eu e Maria temos uma coisa em comum: por uma dessas coincidências do destino (e eu adoro essas surpresas), conhecemos uma pessoa em comum - o nome dele: Tonho Gebara.
Um excelente artista, alma sensível, guitarrista de alma, cabelos no rosto, tipo diferente, manso, delicado, easy.
Tonho morreu, repentinamente, de um problema no coração. Jovem, no auge, assim, sem mais nem menos, morreu. Deixou saudades, acredito, em muitos que gostavam de sua música, de sua presença de palco autêntica, de sua melodia suave, do sorriso camarada.
Maria escreveu um lindo poema homenageando o amigo, uma declaração de amor. Ela conseguiu dizer em forma de letra, sobre amar e perder, sobre estar e ir, sobre a morte e a vida.
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

"Morrer podia ser só um pouquinho
Podia ser um passeio
Uma viagem pela noite que acabasse no café

Morrer como uma aventura
Uma montanha
Andar a pé o deserto depois voltar

Como dançar de olho fechado
Se perder num outro corpo
Como uísque bom, um sono inteiro, um prazer, um cheiro

Morrer podia até ser um castigo
Porta fechada com prazo de fim
Mas não esse buraco, esse abismo
Seu riso pra sempre perdido
Sua música soando em mim"
(para Tonho Gebara - por Maria Rezende)




segunda-feira, 3 de março de 2014






Esse vídeo andou circulando pelas redes sociais. Acho ele tão bonitinho...
Faz pensar no tempo de cada um e no respeito a esse tempo.
Vendo esse curto vídeo me veio a cabeça uma questão comum no campo dos lutos e das perdas. Não existe um tempo demarcado para o luto. Não existe o tempo certo para a dor ir embora, para desarrumar o quarto de um filho, para doar as roupas de uma saudosa esposa, para se desfazer do escritório daquele pai tão admirado.
A dor não funciona na lógica temporal e cronológica que os relógios e calendários funcionam.
A lógica da dor é do amor investido, do cuidado disponibilizado, da história vivida, do vínculo estabelecido.
A intensidade da dor, a paralisação da vida, o empobrecimento das atividades e a perda da qualidade de vida, especialmente, a emocional, o isolamento social, entre outros sintomas, é o que nos dá parâmetros para identificar os fatores de risco e prognósticos mais sérios sobre alguns processos de luto. Isso nada tem a ver com o tempo.
Use o seu tempo, o tempo da sua dor, seja ele qual for.
Não permita que outras pessoas digam se está certo ou errado. A perda é sua, a ausência permanente de quem se foi será na sua vida e não na vida daquele que lhe "aconselha" a seguir em frente (uma das frases mais equivocadas que pessoas enlutadas escutam).
Suprimir a dor para tentar seguir em frente faz doer mais. Afastar a dor em vez de vivê-la, só alimenta a sua força.
Seja o seu tempo, o tempo da sua dor.


(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

sábado, 1 de março de 2014



Mobilizada por um atendimento clínico de luto venho estudando muito sobre esse caso.
Tento entender o que faz eco neste encontro terapêutico. Encontro esse, cheio de potência.
Por que certos atendimentos mobilizam mais que outros? Isso acontece sim na clínica, e é sempre importante a nossa percepção do que se passa. Fazemos análise e supervisão (eu faço as duas) para que os nossos pontos cegos (sim, todos nós temos) não nos deixe sem escuta.. Mas ainda que se tenha cuidado e amparo técnico, as vezes acontece.
Lendo Marialzira Perestrello, em seu sensível livro, "Cartas a um jovem psicanalista" e estudando sobre os encontros terapêuticos, paro numa frase cheia de sentido.
Achei interessante transcrevê-la aqui:
"O objeto de estudo é o Nós - aquela relação que na sala de análise se estabeleceu entre duas pessoas, até então desconhecidas."
Não sou psicanalista mas leio psicanálise e o encontro, também potente, com esse livro, tem me ajudado bastante neste caso difícil.
O Nós pode ser transformador, para quem escuta e para aquele que discursa.

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)