quarta-feira, 12 de novembro de 2014


Há quase 4 anos um grupo de 5 psicólogas amigas se reuniu e ofereceu à PUC um curso de extensão em Psico-Oncologia. 

Todas nós, com um percurso de experiências institucionais, clínicas e acadêmicas, sentimos a necessidade de se filiar a uma Universidade e estruturar um curso que abordasse os principais aspectos, conceitos e disciplinas que permeiam a Psico-Oncologia.

A PUC , junto do Departamento de Psicologia, comprou a nossa ideia no ato, e assim, dávamos início a árdua tarefa de estruturar um curso que duraria 1 semestre apenas e montar um programa que coubesse o universo rico e complexo dos aspectos emocionais do adoecimento por câncer.

A resposta positiva veio logo na 1a turma que teve todas as vagas preenchidas e fila de espera. Iniciamos as aulas no campus da Barra da Tijuca e no ano seguinte a PUC nos levou para o campus da Gávea, com a intenção de mais alunos poderem participar.

E aqui estamos nós, caminhando para a 4a turma, que terá início em março do próximo ano e já está com as inscrições abertas.

Todo o programa e conteúdo é pensado, discutido e revisto a cada semestre a partir das avaliações dos próprios alunos.

É isso, seguimos nesta caminhada da Psico-Oncologia, tendo a chancela de uma grande Universidade como a PUC e ampliando as discussões em torno do tratamento oncológico de forma didática, acadêmica, estruturada, cuidadosa e ajudando na capacitação dos profissionais que escolheram essa área de atuação.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014



Hoje tivemos uma experiência muito interessante e rica, participamos do I Simpósio de Doação de Órgãos e Tecidos do Hospital Municipal Souza Aguiar.

Foi incrível escutar e compartilhar a experiência com profissionais muito cuidadosos e envolvidos nesta tarefa tão delicada e complexa.

A nossa palestra foi sobre Morte Encefálica e o Luto das Famílias Doadoras e abordamos a questão sob o viés do luto enquanto reação que perpassa todo o processo, desde o início da internação até a constatação da morte encefálica propriamente dita e no pós óbito.

Foi uma honra a chance de falarmos para essa equipe e mais do que isso, uma grande oportunidade de sensibilizarmos as equipes de saúde ali presentes sobre o papel da comunicação adequada, empática, cuidadosa e fundamental para o processo de luto, especialmente neste cenário.

A perda de um ente querido, e a forma súbita, imprevisível e traumática como nos casos que envolvam acidentes causa enorme desorganização emocional, de tal forma, que a resposta cognitiva e intelectual dessas pessoas passa a funcionar precariamente. 

O quadro de estresse agudo que se veem envolvidas pela notícia alarmante que alguém que ama morreu é provocador de desmoronamento e desconstrução de seus mundos presumidos. Ainda assim, e diante disso, essas famílias muitas vezes são abordadas (e devem ser) pelas equipes de transplante sobre a ideia da doação de órgãos e tomar uma decisão. 

Mas como chegar sem invadir?
Como abordar sem vínculo estabelecido?
Como ser disponível sem ser piegas?
Como mobilizar sem desorganizar mais?
Como ajudar no processo de luto dessas pessoas sem pressioná-las a uma resposta no tempo da viabilidade dos órgãos saudáveis que o seu ente querido, declarado morto, protege dentro de um corpo que funciona artificialmente?
Como não apontar a necessidade do receptor se a necessidade do familiar em sua dor é maior do que qualquer outra?

São questões que merecem discussão, conversas, estudo e cuidado!



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ainda assim



Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.
E nessa partida, vamos um pouco juntos , coisas nossas são levadas e ficam os restos.
Somos restos por um tempo, ou por muito tempo, 
De restos sobrevivemos, escutando pela metade, sentindo por terços e faixas da vida, capengando no amanhecer de cada dia.
Aprender a viver é mais do reconstruir, é nascer uma vez e de novo, deixando a roupa antiga, o corpo usado, a chama passada - mas das memórias que nos acompanham renascemos sendo um outro dentro de nós mesmo.
Porque é da vida que se faz a morte e é da morte que renasce à vida. Morte e vida uma soma de dois que dá um. Um com cheiros de uns porque morremos com tudo aquilo que vivemos, com tudo aquilo que amamos.
E é na perda que nasce a possibilidade de conseguirmos ser no 'apesar de'...
E dessas feridas e cicatrizes vamos nos tornando contínuo ser, com marcas, restos, memórias, metade e ainda assim, nós mesmos.

Erika Pallottino


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O próximo tabu a ser quebrado: a morte

Quem escreveu esse maravilhoso texto se chama Camila Appel. Ele foi publicado na folha online no dia 16/10/2014 e eu tive acesso a ele pelas redes sociais.
Camila criou um blog chamado Morte sem Tabu e vem postando pequenos artigos super interessantes. O de hoje, por exemplo, fala sobre cremação e sepultamento.
Camila não é psicóloga e nem trabalha na área da saúde, vem de uma trajetória em administração de empresas, passando pela antropologia e pela escrita de peças para teatro, e agora, ao que parece, se lança na investigação das questões sobre morte e finitude.

Bom ter mais um com a idéia da desconstrução e aproximação do tema, bom ter mais um , e esse com força, pelo fato de ser formador de opinião e com voz ativa na mídia que nos ajude a quebrar esse silenciamento, bom ter mais um fazendo coro para aquilo que é natural, humano e parte do ciclo vital.

Aos poucos vamos assistindo acontecer o movimento de descortinamento da morte.

Falamos sobre nascimentos e chegadas, mas não conseguimos falar sobre mortes e partidas.
Nos preparamos para receber um bebê mas nos escondemos para se despedir daqueles que amamos ao longo da vida...é pra pensar...

Seja bem-vinda à rede, Camila!


O próximo tabu a ser quebrado: a morte

Foi o depoimento da atriz Odete Lara que me despertou. Ela dizia que a morte é o próximo tabu a ser quebrado na nossa sociedade, depois do sexo. Tabu ou não, é raro se ver discussões na mídia sobre o tema. Tempos atrás não se escrevia a palavra câncer nos jornais, muito menos orgasmo. Hoje escrevemos e falamos sobre isso com total liberdade e criamos plataformas para esmiuçarmos os mais variados assuntos como maternidade, vegetarianismo, homossexualidade, finanças etc. Foi aí que surgiu a ideia de um blog para tratar de um assunto pouco abordado, mas polêmico e complexo, tão natural quanto estranho: a morte.

Sim, todos nós vamos morrer, um dia. Mas no fundo ainda conto com a possibilidade de que esse dia nunca chegue. Ela que exista, claro, longe de mim. O medo da morte é tema comum nos ensaios filosóficos e psicanalíticos. Há uma linha de raciocínio, defendida pelo antropólogo Ernest Becker (1924-1974) em seu premiado livro “A Negação da Morte”, que afirma que a repressão do medo natural da morte o transforma em pânico, refletindo em paranóias da nossa sociedade, como a necessidade de heroísmo, de sermos especiais, diferenciado dos demais.

O desconforto com a morte também pode estar ligado à busca pela juventude eterna e ao afastamento dos doentes do circuito social para o isolamento do hospital, em contraposição a um costume não mais usual onde os familiares morriam e eram velados dentro de casa.

A sociedade da juventude eterna negaria a morte e tudo relacionado a ela, inclusive as discussões a seu respeito.

Esse é um ponto de vista, mas chama atenção ao colocar a repressão do medo da morte como uma característica ocidental com repercussões negativas. Esse blog vê sua razão de existir em encarar o tema e não reprimi-lo.

Essa me parece uma tendência inevitável. Hoje em dia nos conectamos com o mundo pela internet, lemos notícias e alimentamos um perfil virtual. A geração que viu tudo isso surgir ainda está viva. A vida on-line em algum momento deverá pensar na morte e abordá-la de forma sistemática, sem pudores, já que o perfil on-line não morre naturalmente, mata-se.

Comentei com amigos e familiares sobre o interesse em criar esse blog e as reações confirmaram o título deste post. A morte é um tabu, um tema contagioso e de mau agouro. Aqui, vamos jogar uma luz sobre ela explorando pensamentos nas áreas da filosofia, psicologia, ciência e religião, além de prestar um serviço ao leitor, ao trazer informações úteis a respeito das burocracias, da indústria que gira em torno dessa atividade tão presente e tão repudiada.

Nos esforçamos para viver cada vez mais e tem quem diga ser parte do desejo biológico de aperfeiçoamento humano. Mas não há fuga da realidade indiscutível de que um dia deixaremos de existir. E falar a respeito pode ser tão natural quanto o medo desse destino inevitável.

http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2014/10/16/o-proximo-tabu-a-ser-quebrado-a-morte/

sábado, 18 de outubro de 2014

O Físico - Resenha

Essa resenha foi escrita por uma enfermeira amiga, residente de Brasília, Dimitria Moreira. Além de excelente profissional e pessoa querida, Dimitria é uma crítica de cinema sensacional! 

Esse filme é inspirado no livro de mesmo nome. O livro é uma bíblia de tão grande, mas é muitíssimo bom. Sugiro a leitura e a reflexão sobre a prática da medicina, mas o filme, ah, especialmente depois da narrativa de Dimitria, tem que ir correndo assistir!

"Filme baseado no livro com mesmo nome, de Noah Gordon. É um desses presentes cinematográficos que a vida nos concede de tempos em tempos e que agradecemos a oportunidade de estarmos vivos para apreciarmos e refletirmos na arte que se projeta diante de nossos olhos. 

O filme é uma homenagem à história da medicina e mais ainda, sobre a busca do homem em curar doentes e não doenças. É a saga e a luta de um homem (Robet Cole) para se tornar médico. É uma homenagem aos verdadeiros médicos, descendentes de Quíron ( "o ferido que cura"): médicos de homens e de almas. Médicos que tratam doentes e não doenças. Médicos que buscam compreender a alma do paciente e, assim, entender a doença e o homem. Médicos que entendem que o conceito de cura vai muito mais além do que a cura física da doença...o conceito de Cura vai de encontro às dimensões do Cuidado. Dessa forma, o Cuidado está em uma dimensão muito mais ampla e que engloba a Cura.

E nesse dia dos Cuidados Paliativos, o filme é também uma homenagem a essa especialidade de médicos, enfermeiros, psicologos, assistentes sociais, profissionais de saúde que entendem que a morte não é uma inimiga, mas uma amiga que nos ensina sobre a urgencia de viver e que nos fala da vida e de tudo aquilo que nos é importante nessa vida. A nossa missão não é derrotar a morte, mas sim cuidar da vida e, nesse contexto, o processo de morrer e a morte também fazem parte da vida. Na verdade, a morte é o ato final da vida. É o ultimo momento de nossa passagem aqui nestas terras deste "mundão de meu Deus". 

Em um dos momentos do filme, há uma cena em que um dos pacientes está morrendo, e o mesmo desenvolve o seguinte diálogo com o médico Robert cole: "Você sabe que estou morrendo, não sabe? ", ao que o médico responde com lágrimas nos olhos: "sei". Neste momento, não há nada mais o que ser dito, apenas  que o médico seja para este paciente, neste momento final da sua vida, o que o doente mais precisa: um amigo. Nessa vida só se morre apenas uma vez, então que a nossa morte seja mansa e sem sofrimento....que ela seja serena e sem dor....que ela seja ao lado de quem amamos e que esteja ali para nos transmitir paz e coragem para a nova viagem que se inicia...como já dizia o sábio Rubem Alves : "É preciso morrer para continuar a viver...." e essa viagem só não é mistério para Deus. 

O filme é extremamente rico em diálogos e fotografia. Os atores estão completamente a vontade na pele de seus personagens...o Diretor conseguiu reviver uma época à perfeição...Ben Kingsley está simplesmente fantástico como o Mestre que ensina a Robert Cole (Tom Payne) como ser um grande médico. Ben Kingsley fala com os olhos...expira emoção a cada fala e, a cada olhar, ele nos toca na alma. 

Filme fantástico. Poderia ficar aqui horas refletindo em tudo que ele me suscitou à alma. Mas se puder resumir em apenas 4 palavras eu diria: poético, profundo, belíssimo e inspirador. 

Obrigada à vida pelo privilégio de ter visto esse filme e de te-lo apreciado e refletido na vida e na morte nas poucas mais de duas horas de sua existência."                                   (Dimitria Moreira)



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Esse é um curso bem especial. É especial por alguns motivos, entre eles, o fato que trabalhamos na clínica com a Teoria do Apego. Esse é o viés teórico que seguimos, que nos respalda tecnicamente, a melhor corrente teórica (na nossa visão, claro!) para o trabalho com luto. 

John Bowlby (1907 - 1990) , seu fundador, criou conceitos e um modelo técnico que capacita demais o suporte a pessoas enlutadas. Somos mais do que suas fãs, e eu, especialmente, não consigo me pensar na clínica do luto sem Bowlby por perto.

Na última edição desse curso, a turma teve lotação máxima e uma lista de espera de pessoas interessadas que não chegaram a tempo para a inscrição.
A turma foi bem coesa, compartilhamos casos, recortes clínicos e rolou muita troca de experiência.
Essa é a intenção e o perfil do Entrelaços, um espaço que preza pela troca e compartilhamento. Acreditamos que as contribuições tornam o estudo mais dinâmico e conseguimos olhar para a teoria de forma mais clara, facilitando o ensino-aprendizagem enormemente.

Bom, o curso está lançado, as inscrições abertas e para essa turma serão apenas 10 vagas.
Então, se você tem interesse, ligue para o Instituto: 97954.3131 / 2530.4137 ou envie um email para secretaria@institutoentrelacos.com e procure pela nossa secretária, Jéssica, ela terá um super prazer em te atender.

Erika Pallottino,

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Fazer (ou não) dar certo ...

É preciso muito mais do que amor pra fazer dar certo. É preciso muito mais do que o desejo do "para sempre" para fazer dar certo. É preciso, na verdade, tantas coisas para fazer dar certo, que penso: O que é realmente dar certo?
Amor é cuidado, cuidar é estar disponível ao outro (ao que existe de bom e ao que existe de ruim), estar disponível ao outro é estar investido no encontro da relação. Se relacionar é estar junto, com o outro escolhido, escutando, vivendo, dividindo, tentando entender as suas demandas, os seus desejos, as suas dificuldades; é busca pelo bem estar de si e desse outro, para que o objetivo final possa acontecer: o tal do dar certo!
Separações acontecem e o processo doloroso da descoberta do fim, muitas vezes (na maioria delas) é mais intenso do que o próprio fim. Descobrir que não dá pra seguir é potencialmente mais danoso do que deixar de seguir junto. Isso acontece porque quando você se dá conta que acabou é a hora que você começa a ter que planejar o fim...e planejar a morte é muito angustiante.
Você sonhou com essa história que está indo embora, você achou que ela ia preencher este lugar tão romanticamente investido do "para sempre", você desejou que o começo fosse eterno, você tinha certeza que era essa A pessoa; mas, na hora que você começa a planejar a morte dessa história, você volta no começo e sente dor. Dói porque o começo ficou lá, permaneceu estaticamente neste lugar, e sim, ele permaneceu lá atrás porque o começo não pode ser meio, no entanto, pode ser a dor do fim. 
E é isso que faz doer tanto  no fim, a lembrança do começo...e a despedida, claro, do futuro.
Lutos acontecem sempre que vínculos significativos são desfeitos, a dor é inerente ao processo, ela acontece e não tem jeito, deve ser vivida.
Relacionamentos quando são desfeitos são mortes em momentos diferentes para cada um dos parceiros, para o que enxergou primeiro e tomou a decisão, e para o sobrevivente do término, aquele que foi comunicado que a história chegou ao fim. 
Dói para os dois, nos dois, e não há nada que se possa fazer com isso, a não ser, prantear o que chegou ao fim e torcer para que com o tempo e em algum momento, essa história seja menos dolorosa de acessar, e que a restauração se torne mais amplificada do que a perda.


(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

São três, nesse momento, as crianças que eu atendo e que me pedem para colocar essa música no meio da sessão. Uma delas já chorou emocionada, outra fica impactada assistindo o vídeo e me olhando ao mesmo tempo, segurando o seu "cristal mágico" que a deixa mais forte para suportar tantas coisas difíceis que já passou com apenas 4 anos.
Diferente do convencional ou o do que Freud poderia imaginar, eu ligo o meu Ipad sim quando elas pedem, e ao lado delas, em silêncio, fico junto, acompanhando-as em suas emoções, reações e expressões que essa canção provoca em cada uma delas. E confesso, me emociono também...porque sinto que de alguma forma, elas estão dizendo junto dessa canção que estão tentando "deixar ir" para longe suas dores, que não podem mais suportar alguns de seus sofrimentos, que desejam que o passado fique em seu lugar e que apesar do frio que já viveram e que por pouco não congelaram, estão prontas para seguir em frente, para continuar e acreditar. E é emocionante sim, ver crianças tão pequenas que já viveram dores e sofrimentos em sua ainda curta caminhada, falarem através do olhar, da linguagem sonora e perceptiva, e quem sabe (quem pode dizer que não?), buscarem sentido para as suas questões junto deste lindo e mágico desenho da Disney! Afinal, quando conseguimos (re)encontrar a magia voltamos a fazer as pazes com a saúde! 


(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A Dádiva de Hannah - O não aniversário

" - Mamãe, por que eu não vou fazer aniversário depois dos quatros anos?
Tínhamos ido até o supermercado. A pergunta invadiu o carro bem no momento em que embicava na entrada da garagem. Lembranças do terceiro aniversário de Hannah, bem como de nossa conversa sobre se crianças morrem ou não, continuavam tão marcadas em mim quanto, nela, a cicatriz da operação. A voz me pareceu perplexa mas segura; como se Hannah tivesse certeza daquilo, mas não tivesse entendido por quê.
Depois de parar, pus o carro em ponto morto e desliguei o motor. Olhei pelo espelho retrovisor;
Hannah - tentei, detestando a alegria exagerada de minha voz. - Depois dos quatro, você vai fazer cinco.
Ela me olhou desconfiada. De repente, senti-me constrangida.
- Você tem certeza?
- Bom ... - hesitei. - Os médicos estão fazendo todo o possível para ajudar seu corpo a melhorar, assim você poderá fazer anos um monte de vezes.
Ela virou a cabeça de lado e me sorriu, compadecida.
- É ... mas eu não vou fazer.
Ela não estava me desafiando. Estava simplesmente me afirmando uma verdade.
Ao estender o braço para desafivelar a cadeirinha, compreendi que Hannah já se achava muito adiante de mim e que só me restava rezar para conseguir acompanhar seu ritmo. Também não consegui evitar pensar no que mais ela saberia que eu ignorava."

(Do livro - A Dádiva de Hannah , escrito por Maria Housden;2003, pag.72,73)

domingo, 13 de abril de 2014

Porque desastres acontecem num dia comum, como outro qualquer. Você se despede de quem ama como se fosse mais um dia, como outro qualquer, mas um dos dois não volta pra casa. Imaginar que o impensável vai atingir você ou sua família não passa pela sua cabeça, porque, afinal, o desastre é aquele que assistimos na televisão e não o que vivemos em nossa alma, em nossa vida.
Mas desastres acontecem sim, num dia como qualquer outro e a vida vira de cabeça pra baixo e nunca mais será como um dia foi.
Aprender a se (re)construir sem as referências, sem a chegada de quem se ama, conviver com o nunca mais é das dores mais excruciantes que pode existir.
O luto é isso, uma das (senão a maior) reação de estresse que um ser humano pode viver. 
Luto agudo é dor física, Dói o peito. Dói o corpo, Dói a alma. Dói viver.
Luto traumático é perda de sensos importantes para o funcionamento saudável do equilíbrio interno, por segundos, minutos, horas ou dias, ficamos desorganizados a ponto de desorientar, esquecermos quem somos e para onde vamos. 
Luto traumático é perda do sentido da essência da vida por dias ou horas - das mais compridas e eternas.
Luto traumático é busca de sentido para voltar a ter sentido.
Luto traumático é dor aguda em dose cavalar.
Porque num dia como outro qualquer a vida muda e dá medo e receio pensar que isso é verdade.
Diga sim que ama quem você ama. Viva sim o hoje porque simplesmente ele é mais importante que o ontem. Tome decisões com coragem mesmo com medo de errar. Torne sonhos realidade e viva como se a felicidade precisasse de você e você dela.
Porque num dia simples, normal, como um outro qualquer...
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

quarta-feira, 26 de março de 2014

Curso - Teoria e Clínica do Luto

 Muito especial e pensado com cuidado e carinho, Teoria e Clínica do Luto, é um curso de extensão que apresenta tópicos muito interessantes para os profissionais de saúde que atuam com essa temática.
Abordaremos questões como: vínculo e Apego, luto enquanto processo, manifestações e diferenças de luto normal e luto complicado, atuação clínica com olhar profilático, equívocos técnicos na clínica do luto, diferentes tipos de perdas nas diferentes etapas da vida, luto e ciclo vital, luto e adoecimento psicopatológico entre outros.
O curso segue uma metodologia dinâmica com a interação permanente dos alunos, com discussões de filmes e vídeos, recortes clínicos, vivências e claro, fundamentação teórica dos principais autores que na atualidade trabalham com luto.
Essa é a última semana de inscrição e na próxima quarta-feira daremos início a formação de mais uma turma.
Se desejar mais informações entre em contato com o Instituto e fale com a Jéssica, nossa secretária. Nossos telefones são: 2530.4137 / 97954.3131 ou secretaria@institutoentrelacos.com


sábado, 22 de março de 2014

Sobre Vinicius, perda, amor e dor



O que tinha de ser

"Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser."
(Vinícius de Moraes, 2003)





Porque as vezes é só isso mesmo, só mesmo porque tinha de ser.
Não sabemos explicar, não sabemos fazer melhorar, não sabemos esperar a dor passar, mas ela tinha de ser.
Porque a vida prega ciladas, faz doer em cada canto da gente, porque a perda e o que se foi, não volta mais. 
Mas se tinha de ser, vamos então, conseguir viver!
Assim eu penso que deve ser, porque senão, porque haveria de ser e de se perder?

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)





Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

sexta-feira, 21 de março de 2014

E quando os ídolos morrem?


Hoje eu abri a página do google pela manhã e me deparei com essa imagem. Em seguida um amigo me enviou uma mensagem falando que hoje o Senna completaria 54 anos de vida.
Pensei: "Nossa, eu lembro exatamente onde eu estava no dia em que ele morreu, na hora em que aquele acidente ocorreu."
Lembro que fiquei triste, chocada, tocada. Era adolescente naquele época, e se em maio completam 20 anos de sua morte, eu tinha 16 anos naquele dia, e lembro até hoje que doeu. Na verdade, o Brasil sentia dor, estava triste...afinal, ídolos não morrem, mitos não adoecem, heróis não são frágeis. 
E a morte de Senna nos faz pensar no que há de humano no herói, na perda do ideal, na dor da mortalidade e em nossa própria finitude.
Tudo acaba. Todos morrem. Todos nós, um dia, iremos morrer. Pensar nisso assusta.
Nossos pais em algum momento de nossas vidas foram nossos heróis, se tornaram nossos ídolos, e acompanhar o seu envelhecimento ou adoecimento é perder um pouco de si também. E quando eles morrem, parte de nós morre junto. As lembranças ficam solitárias porque o outro que a viveu não está mais alí para sentir junto, para compartilhar, para fazer eco no que é da gente, meu e dele. A lembrança deixa de ser de dois e passa a ser de um.
Senna foi assim, paternalmente um herói brasileiro, e, acompanhar o seu ritual fúnebre, a tv 100% Senna naquele dia, era a expressão de um grande luto coletivo. Escutar o Galvão Bueno chorando ao narrar a despedida do amigo, de algum lugar, nos desorganiza, porque aquela voz é de vida, de torcida, de comemoração, não de adeus. 
No luto o som fica baixo, a luz não ilumina, o corpo se ressente da ausência.
No luto somos o que um dia fomos juntos, ficamos com o que temos do outro que se foi, e nos despedimos do que não será possível ter.
Quando um ídolo vai embora, sem tempo da nação dizer adeus, sem se preparar para a sua partida, o país fica órfão e carente de segurança e de previsibilidade.
Hoje se Senna estivesse aqui como ele seria? Onde estaria? Como seria vê-lo fora de um carro de corrida?
Quando humanizamos o ídolo sentimos medo, pois ele se torna um igual e o igual morre.
Senna morreu ídolo e herói e fez sua passagem bem depressa, pilotando o seu carro, porque fora dele ele seria como todos nós. 
E heróis...heróis voam, não caminham.
Que ele esteja voando entre nós, olhando pelo Brasil e torcendo pela felicidade da nossa nação!
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços) 





Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

sábado, 15 de março de 2014

E se fosse com você?

http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2014/03/14/mulher-adapta-tumulo-para-filho-poder-brincar-com-irmao-morto-527612.asp

A escritora Lya Luft tem uma frase que eu gosto demais. Ela diz: "Quem sabe da minha dor sou eu." E no luto, sabemos, é assim mesmo. Ninguém pode falar da dor a não ser quem a vive, diariamente, cotidianamente, entre noites acordadas e angústias no peito, entre saudades e desamparo; só quem sabe dessa dor é quem vive o seu processo de luto. E olhando dessa forma, não existe uma dor maior, um luto maior que outro. Dor não se mensura quantitativamente. Afinal, a dor maior é a minha, simplesmente porque eu a vivo. Eu perdi quem amava. Eu deixei de viver os sonhos e planos que construí. E isso é absolutamente esperado, vivemos a nossa dor como se esta fosse a maior de todas. Essa reportagem versa um pouco sobre essas situações onde aquele que está fora do contexto, ou seja, da dor do outro, aponta o dedo para julgar. Atenção, todo o cuidado é importante quando falamos de sofrimento, despedidas e rompimentos de vínculos significativos. Adaptar um túmulo para o filho menor brincar com o irmão morto faz pensar em muita coisa, muita coisa mesmo. Mas pra mim, o que fica desta história é o caminho da dor, do luto e do amor. 
Cliquem no link para conhecerem a história na íntegra!
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)







Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sobre esperas

Existem esperas que são doloridas, que são amargas, que fomentam angústias, que impedem o foco, que alimentam a dor. 
Esperas deviam ser brilhos de esperança, possibilidades de futuro, mas nem sempre são. 
Esperas são dúvidas, nunca certezas.
No luto, esperas são daquilo que não volta, mas mesmo assim, o psiquismo não se acostuma com a ausência.
A permanência da ausência pode tornar a espera eterna, e aí, lidamos com uma dor mais complica e crônica, com lutos que não findam, com dores que não se acostumam com o nunca mais.
A complexidade de quem segue esperando alguém ou alguma coisa que sabe-se que não volta, é doloroso. A dor não conhece racionalidade, a dor não tem educação, ela chega sem pedir licença, ela se coloca ao lado sem perguntar se pode e quando se despede não diz adeus...pode então, um fato, quase ilógico, acontecer, à espera da dor voltar.
Lutos são esperas...
Não se volta ao que era antes, mas espera-se voltar.
Não existe a possibilidade de não acontecer a perda, mas espera-se acordar e tudo estar em seu devido lugar.
Lutos promovem questionamentos: Quando isso vai passar? Quanto tempo eu vou ficar assim? 
Espera-se apenas que a vida volte em uma brecha, mas não na brecha da saudade e do vazio.
Esperas são isso, brechas de vida, possibilidade do a posteiori , mas quem aguenta esperar?


(Erika Pallottino -Instituto Entrelaços)







Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

sábado, 8 de março de 2014

Porque hoje, dia 08 de março, é o dia Internacional das Mulheres . Porque mulheres são seres diferentes, são intensas por natureza, têm filhos que são gerados em seu próprio corpo e dele saem para à vida. Imersas em dores, sufocos e sensações, as mulheres respiram o mundo. Faz parte de sua natureza engolir o mundo em suas preocupações, acionadas pelo cuidado e pela maternagem ao que é humano.
Mulheres são sensivelmente sensitivas e reflexivas, escutam e ressoam, borbulham e explodem, implodem e deprimem.
Mulheres têm TPM, têm hormônios que circulam e as modificam diariamente.
Mulheres vivem em rodas gigantes e montanhas russas emocionais, sorrindo, chorando, vivendo e tentando elaborar o mundo que vivem.
Mulheres são mães, e mães perdem filhos; mulheres se casam e ficam viúvas... algumas se tornam ainda mais mulheres. Diante da dor, sentem-se leoas, querem viver e sofrer a dor na coragem da realidade de sua perda, não se escondem e não negam o sofrimento.
Mulheres se tornam fortes e maciças diante da dor.
Mulheres também quebram, desmontam, viram pó, porque a dor pode encolhê-las, murchá-las, desandá-las.
Mulheres, definitivamente, são seres diferentes.
Mulheres tiram a roupa, colocam o peito de fora e brigam pelo feminismo, na mesma intensidade que colocam a sua mutilação exposta em prol de outras mulheres, ajudando-as a ficarem atentas ao câncer de mama.
Mulheres tornam mutilações marcas de vida, registros do sofrido, tatuagem permanente de capacidade, de dignidade, de possibilidade.
Mulheres não são comuns, não são iguais, nem em suas fragilidades, nem em suas vitórias.
Mulheres são seres diferentes, só quem é, sabe!

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)






Instituto Entrelaços - Apoio ao Luto e Emergências Corporativas

terça-feira, 4 de março de 2014

http://mariadapoesia.blogspot.com.br/

Esse é o link de um blog lindo, belo, suave e denso. Quem escreve por lá é uma poetisa, Maria Rezende.
Escreve sentindo, escreve pulsando, escreve encenando.
Algumas pessoas escrevem e ponto. Faz sentido.
Algumas pessoas tornam a escrita a forma possível de sentir à vida.
Maria é uma dessas pessoas.
Eu e Maria temos uma coisa em comum: por uma dessas coincidências do destino (e eu adoro essas surpresas), conhecemos uma pessoa em comum - o nome dele: Tonho Gebara.
Um excelente artista, alma sensível, guitarrista de alma, cabelos no rosto, tipo diferente, manso, delicado, easy.
Tonho morreu, repentinamente, de um problema no coração. Jovem, no auge, assim, sem mais nem menos, morreu. Deixou saudades, acredito, em muitos que gostavam de sua música, de sua presença de palco autêntica, de sua melodia suave, do sorriso camarada.
Maria escreveu um lindo poema homenageando o amigo, uma declaração de amor. Ela conseguiu dizer em forma de letra, sobre amar e perder, sobre estar e ir, sobre a morte e a vida.
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

"Morrer podia ser só um pouquinho
Podia ser um passeio
Uma viagem pela noite que acabasse no café

Morrer como uma aventura
Uma montanha
Andar a pé o deserto depois voltar

Como dançar de olho fechado
Se perder num outro corpo
Como uísque bom, um sono inteiro, um prazer, um cheiro

Morrer podia até ser um castigo
Porta fechada com prazo de fim
Mas não esse buraco, esse abismo
Seu riso pra sempre perdido
Sua música soando em mim"
(para Tonho Gebara - por Maria Rezende)




segunda-feira, 3 de março de 2014






Esse vídeo andou circulando pelas redes sociais. Acho ele tão bonitinho...
Faz pensar no tempo de cada um e no respeito a esse tempo.
Vendo esse curto vídeo me veio a cabeça uma questão comum no campo dos lutos e das perdas. Não existe um tempo demarcado para o luto. Não existe o tempo certo para a dor ir embora, para desarrumar o quarto de um filho, para doar as roupas de uma saudosa esposa, para se desfazer do escritório daquele pai tão admirado.
A dor não funciona na lógica temporal e cronológica que os relógios e calendários funcionam.
A lógica da dor é do amor investido, do cuidado disponibilizado, da história vivida, do vínculo estabelecido.
A intensidade da dor, a paralisação da vida, o empobrecimento das atividades e a perda da qualidade de vida, especialmente, a emocional, o isolamento social, entre outros sintomas, é o que nos dá parâmetros para identificar os fatores de risco e prognósticos mais sérios sobre alguns processos de luto. Isso nada tem a ver com o tempo.
Use o seu tempo, o tempo da sua dor, seja ele qual for.
Não permita que outras pessoas digam se está certo ou errado. A perda é sua, a ausência permanente de quem se foi será na sua vida e não na vida daquele que lhe "aconselha" a seguir em frente (uma das frases mais equivocadas que pessoas enlutadas escutam).
Suprimir a dor para tentar seguir em frente faz doer mais. Afastar a dor em vez de vivê-la, só alimenta a sua força.
Seja o seu tempo, o tempo da sua dor.


(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

sábado, 1 de março de 2014



Mobilizada por um atendimento clínico de luto venho estudando muito sobre esse caso.
Tento entender o que faz eco neste encontro terapêutico. Encontro esse, cheio de potência.
Por que certos atendimentos mobilizam mais que outros? Isso acontece sim na clínica, e é sempre importante a nossa percepção do que se passa. Fazemos análise e supervisão (eu faço as duas) para que os nossos pontos cegos (sim, todos nós temos) não nos deixe sem escuta.. Mas ainda que se tenha cuidado e amparo técnico, as vezes acontece.
Lendo Marialzira Perestrello, em seu sensível livro, "Cartas a um jovem psicanalista" e estudando sobre os encontros terapêuticos, paro numa frase cheia de sentido.
Achei interessante transcrevê-la aqui:
"O objeto de estudo é o Nós - aquela relação que na sala de análise se estabeleceu entre duas pessoas, até então desconhecidas."
Não sou psicanalista mas leio psicanálise e o encontro, também potente, com esse livro, tem me ajudado bastante neste caso difícil.
O Nós pode ser transformador, para quem escuta e para aquele que discursa.

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


Porque a vida insiste em buscar sentido para o que fica perdido. 
Sentimos angústia pelo caminho da vida e frente ao mar de sensações que algumas perdas nos levam enfrentar, nos damos conta que podemos ser mais do que imaginamos poder.
A vida, circular e dinâmica, apronta com a nossa felicidade, com a nossa estabilidade, nos dizendo cotidianamente: "tudo muda, nada é fixo, tudo pode acontecer."
Para os inseguros, isso é de uma ameaça indescritível.
Para os seguros, a negação funciona como um importante mecanismo de defesa.
Para os que não são nem lá, nem cá, vivem a vida a cada dia, vivendo o hoje mesmo quando ele parece ser sem sentido. A busca de sentido acontece no presente, no vivido do agora.
Perdemos sempre, toda hora, todos os dias, o tempo todo.
Vivemos e perdemos.
Sentimos e perdemos.
Amamos e nos perdemos dentro do amor.
Que dor pode ser o amor...
Que dor perder o amor...
Que dor sobreviver ao amor...
E nesse dinamismo cíclico e intenso, vamos nos conhecendo, nos surpreendendo e entendendo que nada é, tudo está.
Foco, força e fé - armas importantes, instrumentos protetores. 

(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)