segunda-feira, 21 de abril de 2014

São três, nesse momento, as crianças que eu atendo e que me pedem para colocar essa música no meio da sessão. Uma delas já chorou emocionada, outra fica impactada assistindo o vídeo e me olhando ao mesmo tempo, segurando o seu "cristal mágico" que a deixa mais forte para suportar tantas coisas difíceis que já passou com apenas 4 anos.
Diferente do convencional ou o do que Freud poderia imaginar, eu ligo o meu Ipad sim quando elas pedem, e ao lado delas, em silêncio, fico junto, acompanhando-as em suas emoções, reações e expressões que essa canção provoca em cada uma delas. E confesso, me emociono também...porque sinto que de alguma forma, elas estão dizendo junto dessa canção que estão tentando "deixar ir" para longe suas dores, que não podem mais suportar alguns de seus sofrimentos, que desejam que o passado fique em seu lugar e que apesar do frio que já viveram e que por pouco não congelaram, estão prontas para seguir em frente, para continuar e acreditar. E é emocionante sim, ver crianças tão pequenas que já viveram dores e sofrimentos em sua ainda curta caminhada, falarem através do olhar, da linguagem sonora e perceptiva, e quem sabe (quem pode dizer que não?), buscarem sentido para as suas questões junto deste lindo e mágico desenho da Disney! Afinal, quando conseguimos (re)encontrar a magia voltamos a fazer as pazes com a saúde! 


(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A Dádiva de Hannah - O não aniversário

" - Mamãe, por que eu não vou fazer aniversário depois dos quatros anos?
Tínhamos ido até o supermercado. A pergunta invadiu o carro bem no momento em que embicava na entrada da garagem. Lembranças do terceiro aniversário de Hannah, bem como de nossa conversa sobre se crianças morrem ou não, continuavam tão marcadas em mim quanto, nela, a cicatriz da operação. A voz me pareceu perplexa mas segura; como se Hannah tivesse certeza daquilo, mas não tivesse entendido por quê.
Depois de parar, pus o carro em ponto morto e desliguei o motor. Olhei pelo espelho retrovisor;
Hannah - tentei, detestando a alegria exagerada de minha voz. - Depois dos quatro, você vai fazer cinco.
Ela me olhou desconfiada. De repente, senti-me constrangida.
- Você tem certeza?
- Bom ... - hesitei. - Os médicos estão fazendo todo o possível para ajudar seu corpo a melhorar, assim você poderá fazer anos um monte de vezes.
Ela virou a cabeça de lado e me sorriu, compadecida.
- É ... mas eu não vou fazer.
Ela não estava me desafiando. Estava simplesmente me afirmando uma verdade.
Ao estender o braço para desafivelar a cadeirinha, compreendi que Hannah já se achava muito adiante de mim e que só me restava rezar para conseguir acompanhar seu ritmo. Também não consegui evitar pensar no que mais ela saberia que eu ignorava."

(Do livro - A Dádiva de Hannah , escrito por Maria Housden;2003, pag.72,73)

domingo, 13 de abril de 2014

Porque desastres acontecem num dia comum, como outro qualquer. Você se despede de quem ama como se fosse mais um dia, como outro qualquer, mas um dos dois não volta pra casa. Imaginar que o impensável vai atingir você ou sua família não passa pela sua cabeça, porque, afinal, o desastre é aquele que assistimos na televisão e não o que vivemos em nossa alma, em nossa vida.
Mas desastres acontecem sim, num dia como qualquer outro e a vida vira de cabeça pra baixo e nunca mais será como um dia foi.
Aprender a se (re)construir sem as referências, sem a chegada de quem se ama, conviver com o nunca mais é das dores mais excruciantes que pode existir.
O luto é isso, uma das (senão a maior) reação de estresse que um ser humano pode viver. 
Luto agudo é dor física, Dói o peito. Dói o corpo, Dói a alma. Dói viver.
Luto traumático é perda de sensos importantes para o funcionamento saudável do equilíbrio interno, por segundos, minutos, horas ou dias, ficamos desorganizados a ponto de desorientar, esquecermos quem somos e para onde vamos. 
Luto traumático é perda do sentido da essência da vida por dias ou horas - das mais compridas e eternas.
Luto traumático é busca de sentido para voltar a ter sentido.
Luto traumático é dor aguda em dose cavalar.
Porque num dia como outro qualquer a vida muda e dá medo e receio pensar que isso é verdade.
Diga sim que ama quem você ama. Viva sim o hoje porque simplesmente ele é mais importante que o ontem. Tome decisões com coragem mesmo com medo de errar. Torne sonhos realidade e viva como se a felicidade precisasse de você e você dela.
Porque num dia simples, normal, como um outro qualquer...
(Erika Pallottino - Instituto Entrelaços)