sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ainda assim



Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.
E nessa partida, vamos um pouco juntos , coisas nossas são levadas e ficam os restos.
Somos restos por um tempo, ou por muito tempo, 
De restos sobrevivemos, escutando pela metade, sentindo por terços e faixas da vida, capengando no amanhecer de cada dia.
Aprender a viver é mais do reconstruir, é nascer uma vez e de novo, deixando a roupa antiga, o corpo usado, a chama passada - mas das memórias que nos acompanham renascemos sendo um outro dentro de nós mesmo.
Porque é da vida que se faz a morte e é da morte que renasce à vida. Morte e vida uma soma de dois que dá um. Um com cheiros de uns porque morremos com tudo aquilo que vivemos, com tudo aquilo que amamos.
E é na perda que nasce a possibilidade de conseguirmos ser no 'apesar de'...
E dessas feridas e cicatrizes vamos nos tornando contínuo ser, com marcas, restos, memórias, metade e ainda assim, nós mesmos.

Erika Pallottino


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O próximo tabu a ser quebrado: a morte

Quem escreveu esse maravilhoso texto se chama Camila Appel. Ele foi publicado na folha online no dia 16/10/2014 e eu tive acesso a ele pelas redes sociais.
Camila criou um blog chamado Morte sem Tabu e vem postando pequenos artigos super interessantes. O de hoje, por exemplo, fala sobre cremação e sepultamento.
Camila não é psicóloga e nem trabalha na área da saúde, vem de uma trajetória em administração de empresas, passando pela antropologia e pela escrita de peças para teatro, e agora, ao que parece, se lança na investigação das questões sobre morte e finitude.

Bom ter mais um com a idéia da desconstrução e aproximação do tema, bom ter mais um , e esse com força, pelo fato de ser formador de opinião e com voz ativa na mídia que nos ajude a quebrar esse silenciamento, bom ter mais um fazendo coro para aquilo que é natural, humano e parte do ciclo vital.

Aos poucos vamos assistindo acontecer o movimento de descortinamento da morte.

Falamos sobre nascimentos e chegadas, mas não conseguimos falar sobre mortes e partidas.
Nos preparamos para receber um bebê mas nos escondemos para se despedir daqueles que amamos ao longo da vida...é pra pensar...

Seja bem-vinda à rede, Camila!


O próximo tabu a ser quebrado: a morte

Foi o depoimento da atriz Odete Lara que me despertou. Ela dizia que a morte é o próximo tabu a ser quebrado na nossa sociedade, depois do sexo. Tabu ou não, é raro se ver discussões na mídia sobre o tema. Tempos atrás não se escrevia a palavra câncer nos jornais, muito menos orgasmo. Hoje escrevemos e falamos sobre isso com total liberdade e criamos plataformas para esmiuçarmos os mais variados assuntos como maternidade, vegetarianismo, homossexualidade, finanças etc. Foi aí que surgiu a ideia de um blog para tratar de um assunto pouco abordado, mas polêmico e complexo, tão natural quanto estranho: a morte.

Sim, todos nós vamos morrer, um dia. Mas no fundo ainda conto com a possibilidade de que esse dia nunca chegue. Ela que exista, claro, longe de mim. O medo da morte é tema comum nos ensaios filosóficos e psicanalíticos. Há uma linha de raciocínio, defendida pelo antropólogo Ernest Becker (1924-1974) em seu premiado livro “A Negação da Morte”, que afirma que a repressão do medo natural da morte o transforma em pânico, refletindo em paranóias da nossa sociedade, como a necessidade de heroísmo, de sermos especiais, diferenciado dos demais.

O desconforto com a morte também pode estar ligado à busca pela juventude eterna e ao afastamento dos doentes do circuito social para o isolamento do hospital, em contraposição a um costume não mais usual onde os familiares morriam e eram velados dentro de casa.

A sociedade da juventude eterna negaria a morte e tudo relacionado a ela, inclusive as discussões a seu respeito.

Esse é um ponto de vista, mas chama atenção ao colocar a repressão do medo da morte como uma característica ocidental com repercussões negativas. Esse blog vê sua razão de existir em encarar o tema e não reprimi-lo.

Essa me parece uma tendência inevitável. Hoje em dia nos conectamos com o mundo pela internet, lemos notícias e alimentamos um perfil virtual. A geração que viu tudo isso surgir ainda está viva. A vida on-line em algum momento deverá pensar na morte e abordá-la de forma sistemática, sem pudores, já que o perfil on-line não morre naturalmente, mata-se.

Comentei com amigos e familiares sobre o interesse em criar esse blog e as reações confirmaram o título deste post. A morte é um tabu, um tema contagioso e de mau agouro. Aqui, vamos jogar uma luz sobre ela explorando pensamentos nas áreas da filosofia, psicologia, ciência e religião, além de prestar um serviço ao leitor, ao trazer informações úteis a respeito das burocracias, da indústria que gira em torno dessa atividade tão presente e tão repudiada.

Nos esforçamos para viver cada vez mais e tem quem diga ser parte do desejo biológico de aperfeiçoamento humano. Mas não há fuga da realidade indiscutível de que um dia deixaremos de existir. E falar a respeito pode ser tão natural quanto o medo desse destino inevitável.

http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2014/10/16/o-proximo-tabu-a-ser-quebrado-a-morte/

sábado, 18 de outubro de 2014

O Físico - Resenha

Essa resenha foi escrita por uma enfermeira amiga, residente de Brasília, Dimitria Moreira. Além de excelente profissional e pessoa querida, Dimitria é uma crítica de cinema sensacional! 

Esse filme é inspirado no livro de mesmo nome. O livro é uma bíblia de tão grande, mas é muitíssimo bom. Sugiro a leitura e a reflexão sobre a prática da medicina, mas o filme, ah, especialmente depois da narrativa de Dimitria, tem que ir correndo assistir!

"Filme baseado no livro com mesmo nome, de Noah Gordon. É um desses presentes cinematográficos que a vida nos concede de tempos em tempos e que agradecemos a oportunidade de estarmos vivos para apreciarmos e refletirmos na arte que se projeta diante de nossos olhos. 

O filme é uma homenagem à história da medicina e mais ainda, sobre a busca do homem em curar doentes e não doenças. É a saga e a luta de um homem (Robet Cole) para se tornar médico. É uma homenagem aos verdadeiros médicos, descendentes de Quíron ( "o ferido que cura"): médicos de homens e de almas. Médicos que tratam doentes e não doenças. Médicos que buscam compreender a alma do paciente e, assim, entender a doença e o homem. Médicos que entendem que o conceito de cura vai muito mais além do que a cura física da doença...o conceito de Cura vai de encontro às dimensões do Cuidado. Dessa forma, o Cuidado está em uma dimensão muito mais ampla e que engloba a Cura.

E nesse dia dos Cuidados Paliativos, o filme é também uma homenagem a essa especialidade de médicos, enfermeiros, psicologos, assistentes sociais, profissionais de saúde que entendem que a morte não é uma inimiga, mas uma amiga que nos ensina sobre a urgencia de viver e que nos fala da vida e de tudo aquilo que nos é importante nessa vida. A nossa missão não é derrotar a morte, mas sim cuidar da vida e, nesse contexto, o processo de morrer e a morte também fazem parte da vida. Na verdade, a morte é o ato final da vida. É o ultimo momento de nossa passagem aqui nestas terras deste "mundão de meu Deus". 

Em um dos momentos do filme, há uma cena em que um dos pacientes está morrendo, e o mesmo desenvolve o seguinte diálogo com o médico Robert cole: "Você sabe que estou morrendo, não sabe? ", ao que o médico responde com lágrimas nos olhos: "sei". Neste momento, não há nada mais o que ser dito, apenas  que o médico seja para este paciente, neste momento final da sua vida, o que o doente mais precisa: um amigo. Nessa vida só se morre apenas uma vez, então que a nossa morte seja mansa e sem sofrimento....que ela seja serena e sem dor....que ela seja ao lado de quem amamos e que esteja ali para nos transmitir paz e coragem para a nova viagem que se inicia...como já dizia o sábio Rubem Alves : "É preciso morrer para continuar a viver...." e essa viagem só não é mistério para Deus. 

O filme é extremamente rico em diálogos e fotografia. Os atores estão completamente a vontade na pele de seus personagens...o Diretor conseguiu reviver uma época à perfeição...Ben Kingsley está simplesmente fantástico como o Mestre que ensina a Robert Cole (Tom Payne) como ser um grande médico. Ben Kingsley fala com os olhos...expira emoção a cada fala e, a cada olhar, ele nos toca na alma. 

Filme fantástico. Poderia ficar aqui horas refletindo em tudo que ele me suscitou à alma. Mas se puder resumir em apenas 4 palavras eu diria: poético, profundo, belíssimo e inspirador. 

Obrigada à vida pelo privilégio de ter visto esse filme e de te-lo apreciado e refletido na vida e na morte nas poucas mais de duas horas de sua existência."                                   (Dimitria Moreira)



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Esse é um curso bem especial. É especial por alguns motivos, entre eles, o fato que trabalhamos na clínica com a Teoria do Apego. Esse é o viés teórico que seguimos, que nos respalda tecnicamente, a melhor corrente teórica (na nossa visão, claro!) para o trabalho com luto. 

John Bowlby (1907 - 1990) , seu fundador, criou conceitos e um modelo técnico que capacita demais o suporte a pessoas enlutadas. Somos mais do que suas fãs, e eu, especialmente, não consigo me pensar na clínica do luto sem Bowlby por perto.

Na última edição desse curso, a turma teve lotação máxima e uma lista de espera de pessoas interessadas que não chegaram a tempo para a inscrição.
A turma foi bem coesa, compartilhamos casos, recortes clínicos e rolou muita troca de experiência.
Essa é a intenção e o perfil do Entrelaços, um espaço que preza pela troca e compartilhamento. Acreditamos que as contribuições tornam o estudo mais dinâmico e conseguimos olhar para a teoria de forma mais clara, facilitando o ensino-aprendizagem enormemente.

Bom, o curso está lançado, as inscrições abertas e para essa turma serão apenas 10 vagas.
Então, se você tem interesse, ligue para o Instituto: 97954.3131 / 2530.4137 ou envie um email para secretaria@institutoentrelacos.com e procure pela nossa secretária, Jéssica, ela terá um super prazer em te atender.

Erika Pallottino,