sábado, 18 de outubro de 2014

O Físico - Resenha

Essa resenha foi escrita por uma enfermeira amiga, residente de Brasília, Dimitria Moreira. Além de excelente profissional e pessoa querida, Dimitria é uma crítica de cinema sensacional! 

Esse filme é inspirado no livro de mesmo nome. O livro é uma bíblia de tão grande, mas é muitíssimo bom. Sugiro a leitura e a reflexão sobre a prática da medicina, mas o filme, ah, especialmente depois da narrativa de Dimitria, tem que ir correndo assistir!

"Filme baseado no livro com mesmo nome, de Noah Gordon. É um desses presentes cinematográficos que a vida nos concede de tempos em tempos e que agradecemos a oportunidade de estarmos vivos para apreciarmos e refletirmos na arte que se projeta diante de nossos olhos. 

O filme é uma homenagem à história da medicina e mais ainda, sobre a busca do homem em curar doentes e não doenças. É a saga e a luta de um homem (Robet Cole) para se tornar médico. É uma homenagem aos verdadeiros médicos, descendentes de Quíron ( "o ferido que cura"): médicos de homens e de almas. Médicos que tratam doentes e não doenças. Médicos que buscam compreender a alma do paciente e, assim, entender a doença e o homem. Médicos que entendem que o conceito de cura vai muito mais além do que a cura física da doença...o conceito de Cura vai de encontro às dimensões do Cuidado. Dessa forma, o Cuidado está em uma dimensão muito mais ampla e que engloba a Cura.

E nesse dia dos Cuidados Paliativos, o filme é também uma homenagem a essa especialidade de médicos, enfermeiros, psicologos, assistentes sociais, profissionais de saúde que entendem que a morte não é uma inimiga, mas uma amiga que nos ensina sobre a urgencia de viver e que nos fala da vida e de tudo aquilo que nos é importante nessa vida. A nossa missão não é derrotar a morte, mas sim cuidar da vida e, nesse contexto, o processo de morrer e a morte também fazem parte da vida. Na verdade, a morte é o ato final da vida. É o ultimo momento de nossa passagem aqui nestas terras deste "mundão de meu Deus". 

Em um dos momentos do filme, há uma cena em que um dos pacientes está morrendo, e o mesmo desenvolve o seguinte diálogo com o médico Robert cole: "Você sabe que estou morrendo, não sabe? ", ao que o médico responde com lágrimas nos olhos: "sei". Neste momento, não há nada mais o que ser dito, apenas  que o médico seja para este paciente, neste momento final da sua vida, o que o doente mais precisa: um amigo. Nessa vida só se morre apenas uma vez, então que a nossa morte seja mansa e sem sofrimento....que ela seja serena e sem dor....que ela seja ao lado de quem amamos e que esteja ali para nos transmitir paz e coragem para a nova viagem que se inicia...como já dizia o sábio Rubem Alves : "É preciso morrer para continuar a viver...." e essa viagem só não é mistério para Deus. 

O filme é extremamente rico em diálogos e fotografia. Os atores estão completamente a vontade na pele de seus personagens...o Diretor conseguiu reviver uma época à perfeição...Ben Kingsley está simplesmente fantástico como o Mestre que ensina a Robert Cole (Tom Payne) como ser um grande médico. Ben Kingsley fala com os olhos...expira emoção a cada fala e, a cada olhar, ele nos toca na alma. 

Filme fantástico. Poderia ficar aqui horas refletindo em tudo que ele me suscitou à alma. Mas se puder resumir em apenas 4 palavras eu diria: poético, profundo, belíssimo e inspirador. 

Obrigada à vida pelo privilégio de ter visto esse filme e de te-lo apreciado e refletido na vida e na morte nas poucas mais de duas horas de sua existência."                                   (Dimitria Moreira)



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